Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

sábado, 30 de abril de 2011

Corrente de Santo Eurides

   Esta corrente vem do Peru e foi escrita por Benevides de Obregon y Obregon para percorrer o mundo e trazer a fortuna e a felicidade para quem não interrompê-la.
   Faça sete cópias e mande para sete pessoas. Dentro de sete dias você será recompensado por Santo Eurides. Um dentista da Patagônia deu prosseguimento imediato à corrente e foi recompensado uma semana depois, quando atingiu o nervo exposto de um paciente, este lhe deu um pontapé que o fez cair de costas pela janela na frente de uma bicicleta em alta velocidade. Por interferência de Santo Euri­des a bicicleta capotou antes de atingir o dentista, que nada sofreu. O ciclista morreu.
   Já uma manicura em Manágua, Nicarágua, recebeu a corrente e a amassou com gestos nervosos antes de atirar-se sobre um sofá aos prantos, decepcionada, pois pensava tratar-se de uma carta de seu amante, um sargento da Guarda Nacional suposta­mente envolvido na importação clandestina de chiclé-balão. Sete dias depois a manicura foi rezar na igreja no momento exato em que dois colecionado­res americanos fugiam pela porta com metade do altar, da época colonial, perseguidos pelo padre com um castiçal de bronze. O padre tropeçou na ma­nicura, que foi presa por engano como cúmplice dos americanos. O sargento recusou-se a intervir. Houve um terremoto.
   O Sr. Brício Fazetão, de Teresina, acreditou na corrente e mandou para sete parentes. Na mes­ma semana sua cadela Trajana deu cria, o Sr. Brício fez doze pontos na Esportiva e uma sobrinha da sua mulher encontrou os restos calcinados de um satéli­te meteorológico dos Estados Unidos, onde o clima melhorou e as safras não se perderão por completo, segundo os jornais.
   O escrivão Manolo Pinchas, de Antofagasta, não ligou para a carta, prendeu fogo nela, atirou-a no chão, pisou em cima, começou a gritar como um louco e foi recolhido na mesma hora.
   O informante do FBI, Roy M. Boy, da Califór­nia, recebeu a corrente num momento decisivo da sua vida, quando precisava decidir se entrava definitivamente para o Partido Comunista — que ele frequentara para o FBI, como informante, durante vinte anos, e ao qual se afeiçoara — e casava com Lívia, uma anã contorcionista, ou emigrava para o norte do Paraná depois de casar com Moira, uma analista de sistemas gigante. Não deu bola para a carta e sete dias depois foi atacado, estranhamente, pela lagarta da soja. Lívia prendeu um pé no pesco­ço e não conseguiu tirar. O Partido Comunista não o aceitou e pediu que Roy fosse um informante deles dentro do FBI. Roy lembrou-se então da carta, mandou sete cópias, e hoje tem uma lancheria em Londrina, dois filhos — Roy Júnior e Itapiru — e dinheiro no banco.
   Não interrompa a corrente. Faça sete cópias desta carta e mande junto com um cruzeiro para sete pessoas, sendo seis da sua escolha e a sétima Luís Fernando Veríssimo de Porto Alegre, Brasil, que precisa ir à Europa, por Santo Eurides. Amém.

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