Filho de Érico Veríssimo, um dos maiores nomes da literatura nacional, Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936. Aos 16 anos, foi morar nos EUA, onde aprendeu a tocar saxofone, hábito que cultiva até hoje – tem um grupo, o Jazz 6. É jornalista, mas “do tempo em que não precisava de diploma para exercer a profissão”. Antes de se dedicar exclusivamente à literatura, trabalhou como revisor no jornal gaúcho Zero Hora, em fins de 1966, e atuou como tradutor, no Rio de Janeiro. Casado há mais de 30 anos com Lúcia Verissimo (“não é a atriz, não é a atriz!”), sua primeira “namorada séria”, tem três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro.

domingo, 17 de abril de 2011

Crônica linguística, o que é isso? - Blog do Sérgio Rodrigues - Revista Veja

Cerca de dez anos atrás, sem imaginar que o filão renderia tanto, comecei a escrever na imprensa sobre assuntos de língua e linguagem. Não sou professor de português, gramático ou linguista, gosto sempre de lembrar, porque há quem se impressione mais com esses títulos do que com o texto em si – já fui chamado por leitores desavisados até de filólogo. Sou jornalista profissional há quase trinta anos e escritor com meia dúzia de livros publicados – a maioria de ficção, romances e contos, mas um deles, “What língua is esta?” (Ediouro), precisamente de… crônicas linguísticas. Mas que gênero será esse?
Pois bem. Depois de me meter um tanto estouvadamente na empreitada é que, pesquisando, fui encontrar uma longa linhagem de cronistas linguísticos na imprensa brasileira. Eu nunca os tinha lido sob esse prisma, mas Machado de Assis e Rubem Braga, por exemplo, sempre tiveram um carinho especial por questões de língua em suas crônicas. São saborosos os textos em que Machado ironiza a mania de criar neologismos do latinista Castro Lopes (1827-1901), inimigo das palavras francesas que infestavam o vocabulário brasileiro no século 19. Castro Lopes inventou, por exemplo, os nasóculos como substitutos do pince-nez, mas a palavra não vingou, como Machado, morrendo de rir, sabia que não vingaria. (Vamos fazer justiça: Castro Lopes inventou também a palavra cardápio, para substituir menu, e esta pegou.)
E a velha tradição da crônica sobre a angústia da folha em branco, da qual praticamente cronista nenhum escapou, será o quê, com seu aspecto reflexivo, metalinguístico? Entre os contemporâneos, Luis Fernando Verissimo também recorre com muita competência ao gênero. É natural que seja assim: a língua que compartilhamos é um caldo cultural riquíssimo. À parte quesitos como talento e renome, em que não dou nem para a saída, a diferença em relação a todos esses, digamos, “precursores” é o compromisso que assumi de tratar do assunto com regularidade, quaisquer que sejam as condições atmosféricas ou linguísticas do momento. A angústia da folha (ou tela) em branco sempre existirá, mas já não cabe transformá-la em tema. Melhor contar uma historinha como essa, fazer um aceno a Machado e Verissimo, e quando menos se espera chega o ponto final.

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